Nas eleições de 1982, o mais novo vereador eleito do Espírito Santo surgia na Capital Secreta do Mundo: Ricardo Ferraço, pelo PDS, antiga Arena. Filho de político coronel, na época, Theodorico Ferraço, era a novidade até pela faixa-etária.
Naquele tempo Ricardo representava o pai na sociedade da GranBrasil, empresa de Rochas, com o empresário Rolland Fertahig. Como empreendedor júnior não foi bem sucedido. O pior, como neófito no mercado política foi pior.
Eu tinha também 18 anos – ele aniversaria em agosto e eu em setembro -. Durante dois anos Ricardo ficou assentado como olhando para o vácuo, considerado oposição ao PMDB, anterior MDB. Era uma Câmara Municipal idosa.
Paralelamente, na remissão do tempo, a outra surpresa foi a vitória do “Tarcisio da Areia”, quase um personagem folclórico que vivia de transportar areia com uma carrocinha de pelas ruas de Cachoeiro de Itapemirim até o seu destino. Não me recordo. Mais foi uma votação estrondosa. Depois tentou de novo, mas foi um fiasco sociológico inexplicável.
Voltando ao Ricardo Ferraço. De uma hora para outra, passados dois anos, sem ao menos uma nota pública, o filho do caudilho largou tudo na sua cidade natal e foi para o Rio de Janeiro surfar com os amigos. Seria algo como síndrome da adolescência, teimosia misturada com irresponsabilidade.
Sua adolescência já era marcada pelas estripulias nas águas de Marataízes. Mas seu destino já estava marcado pelo pai que se esforçava para vê-lo herdeiro político. O que viria acontecer mais tarde, na eleição para deputado estadual. Neste hiato pouco se ouvia falar sobre Ricardo Ferraço.
Sua inserção na vida pública foi em um cenário tenebroso das eras Valci Ferreira, Gratz e Marcos Madureira. Ali aprendeu a nadar, porque aonde tem “piranha”, jacaré tem de nadar de costas. Seu discurso era sofrível, tímido até. Foi avançando até conseguir a reeleição e depois a presidência do Legislativo. Acompanhei tudo de perto como jornalista e cidadão.
Naquele tempo já enfrentava um adversário elegante. Ricardo tinha a missão de concluir a nova Assembleia Legislativa, enquanto o deputado federal Renato Casagrande (PSB) fazia gozação pela Imprensa Nacional pelo valor milionário da obra, apelidando-a de “Moqueca Capixaba”, cardápio típico espírito-santense.
Surpreendentemente, numa evolução como em escola de samba, com tempo parecia cronometrado, Ricardo Ferraço se insere na política nacional como deputado federal, vice-governador e, agora, senador.
*Jackson Rangel Vieira é jornalista
Talvez. Vai uma curiosidade neste cruzamento de vidas entre o jornalista e o político, eu tenha sido o único a lhe perguntar numa entrevista de pergunta e resposta, publicada na Folha do ES, se ele já tinha fumado maconha. A resposta? Foi não!
Nenhum comentário:
Postar um comentário