Bebê de sete meses passou por seis hospitais em Cuiabá até ser operado. Falta de equipamento pode ter sido uma das causas da morte da criança.
O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso abriu um procedimento administrativo para investigar se houve falha no atendimento a um bebê de sete meses que morreu após engolir um pedaço de PVC, na última quarta-feira (16), em Cuiabá. Ele ficou seis dias internado em um hospital particular, sofreu uma embolia pulmonar e morreu. Os familiares do bebê alegaram que percorreram seis hospitais, dentre eles, o Pronto-Socorro da capital, mas o bebê só foi internado no dia seguinte ao incidente, em um hospital particular de Cuiabá.
“Até agora o que se apurou é que a criança foi atendida por um pediatra no Pronto-Socorro, foi feito um Raio-x e identificado a necessidade de cirurgia, mas o procedimento não foi realizado por falta de atendimento médico especializado'', explicou a presidente do CRM, Dalva Alves.
No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil, a mãe da criança relatou que deixou o filho na última sexta-feira (11), como de costume, no berçário. No local, conforme trecho do documento, a criança engoliu um pedaço de PVC que, possivelmente, desprendeu-se do forro após a instalação de um ventilador. Porém, o boletim relata que, após a instalação do aparelho, uma faxineira fez a limpeza do local.
O boletim diz ainda que a diretora levou a criança para ser atendida na policlínica da região do berçário ao perceber que ela não respirava. Depois de deixar a unidade, a criança ainda passou por outros cinco hospitais. A peregrinação por várias unidades ocorreu, segundo a família, porque os hospitais não dispunham de um aparelho chamado broncoscópio.
Para o diretor técnico do Pronto-Socorro de Cuiabá, Luis Augusto dos Santos, o atendimento de emergência foi realizado, mas o hospital não conta com especialista para fazer a retirada do objeto. ''Quando a criança deu entrada no Pronto-Socorro foi feito todo atendimento de urgência para que a criança pudesse ser encaminhada para outras unidades. Quando o bebê chegou ao hospital não estava cianótico (roxinho) e não tinha dificuldades para respirar'', afirmou.
De acordo com a madrinha do bebê, Tânia Bressan, uma tomografia constatou que a criança estava com um objeto atravessado na traquéia e, por conta disso, precisava ser operado. Segundo o pneumologista pediátrico Arlan de Azevedo, objetos estranhos ao aparelho respiratório de crianças devem ser retirados por um procedimento chamado bronquioscopia. O procedimento é feito com uma espécie de canudo de metal com uma pinça dentro, que é colocado na garganta da criança para depois retirar o que estiver atrapalhando a respiração.
O otorrinolaringologista Dergan Baracat que realizou a cirurgia em um dos hospitais particulares procurados pela família informou ao G1 que o procedimento foi bem sucedido e, assim que foi finalizado, a criança passou a respirar com ajuda de aparelhos. “A criança saiu muito bem do centro cirúrgico, foi para a UTI e ficou durante quatro dias se recuperando bem. No quinto dia estava previsto para ter alta, quando então sofreu uma embolia pulmonar e veio a falecer'', lembrou o médico.
Em Mato Grosso somente três médicos realizam a cirurgia especializada para a retirada de objetos da garganta. Conforme o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), nove em cada dez crianças acidentadas morrem antes de sair de casa.
A orientação dos médicos é que, em situações de engasgamento, o Samu deve ser chamado imediatamente. Alguns procedimentos repassados com a orientação dos socorristas podem aumentar a chance de vida das crianças, informou o órgão.
Inquérito
O delegado adjunto da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), em Cuiabá, Eduardo de Paulo Botelho Augusto, abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte do bebê.
O inquérito, informou a Polícia Civil ao G1, vai apurar o dever de vigilância dos funcionários do berçário no momento do incidente. A proprietária do berçário, Regina Aparecida Correa, localizado no bairro São Matheus, não quis posicionar-se sobre o incidente à reportagem doG1. Ela disse apenas que fez os esclarecimentos necessários à polícia e à secretaria de Educação e que, no dia do ocorrido, também prestou socorro à criança.
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