O projeto teve início em 2007, quando conseguiu celebrar convênio com a Petrobrás, através do programa Ciranda Capixaba.
“Trabalho com o próprio caráter”. Com essas palavras Valdemir Ares da Silva, de 61 anos, apresentou a dignidade conquistada a partir do momento em que se tornou associado do projeto Catadores de Esperança, em Marataízes. Atualmente, são 38 integrantes, sendo que chegam a receber R$ 1,3 mil, por mês, da venda de materiais recicláveis.
O projeto teve início em 2007, quando conseguiu celebrar convênio com a Petrobrás, através do programa Ciranda Capixaba. A Pastoral da Ecologia local, que coordena o projeto, administrou os recursos que foram da ordem de R$ 120 mil.
Com a verba, foi possível construir a estrutura para o depósito dos materiais reciclados recolhidos, oito carrinhos para a coleta, uma prensa, uma balança, uniformes, materiais para divulgação e equipamentos de segurança.
Para que o projeto não fosse asfixiado pela falta de recursos, a pastoral costurou parcerias e conquistou o apoio da prefeitura de Marataízes, da comunidade, escolas e da Cáritas. Hoje, o Catadores de Esperança recolhe 35 toneladas, por mês, de materiais que poderiam ter um despejo inadequado, degradando o meio ambiente.
De acordo com a coordenadora do projeto Wanderleia Carvalho Campos, os principais compradores são de Vila Velha e Minas Gerais. “Dentre os materiais, temos papel, papelão e todo o tipo de plástico. No momento da venda, quando o caminhão vem para levar a mercadoria, é vendida uma média de 10 a 15 toneladas”, contou.
Associação garante benefícios
Com o crescimento do trabalho, foi criada a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Marataízes, que leva o nome Catadores de Esperança. Wanderleia explicou que através da associação foram possíveis inúmeros benefícios em favor das famílias associadas.
“Todos os 38 associados foram capacitados, com cursos sobre o meio ambiente, segurança, saúde, cooperativismo, associativismo, legislação, entre outros temas”, disse. A forma de recebimento dos catadores foi definida por eles mesmos.
“Há associações que preferem dividir igualmente o lucro. Mas, às vezes, pode ocorrer de um trabalhar mais do que o outro e ter a mesma renda no fim do mês. Aqui, eles acharam mais justo que cada catador receba por produção”.
Ao chegar com o carrinho cheio de materiais recicláveis no galpão, chega o momento da triagem: os resíduos sólidos são separados, pesados e as informações são anotadas na ficha. Do total, 10% são destinados para os prensadores e os profissionais da organização. “Isso acontece porque são pessoas que deixaram de ir às ruas recolher materiais para se dedicarem ao serviço interno”, esclareceu Wanderleia.
“É só ter coragem”
Valdemir Ares da Silva está há quatro anos trabalhando na coleta de resíduos sólidos. Antes, ele contou que labutava como motorista em empresa particular. Mas, adiantou que não sente saudades desse tempo.
“Nem sempre somos respeitados. Na hora do meu almoço, o patrão gritou que queria que eu realizasse um serviço. Hoje está muito melhor que antes. Trabalho com meu próprio caráter, ninguém irá chamar a minha atenção, por não haver necessidade”, disse Valdemir.
Um ano depois que estava no projeto Catadores de Esperança, ele convidou sua esposa Josefa do Nascimento Henrique, de 58 anos, para se associar. Josefa está até hoje no projeto e contribui para a renda familiar. “Dá para se manter, é só ter coragem”, reforçou.
“Na segunda, tenho um lugar certo”
Outro casal que também trabalha no projeto é Francisco José Bueno Gomes, de 59 anos, e Maria Madalena Ferreira Secchim, de 57. O ingresso dos dois no Catadores de Esperança teve processo inverso comparado ao de Valdemir.
“Eu estou há três anos no projeto e depois chamei meu marido. Ele fez a experiência e ficou”, contou Maria Madalena, que atua na organização do galpão. Francisco fez coro com Valdemir e afirmou que a situação financeira hoje é incomparável com a de antes.
“Trabalhava como empreiteiro em fazendas. Tinha patrão e, por vezes, perdia dinheiro na empreitada”, revelou. “Agora, na segunda-feira, tenho um lugar certo para ir trabalhar e ganho de acordo com o que trabalho”.
Francisco José também destacou o fato de ter compradores certos do projeto, o que assegura a renda mensal de todos. Ele também sublinhou que os moradores de Marataízes têm respeito ao trabalho dos catadores e que muitos já deixam o lixo separado, o que facilita o trabalho de coleta.
Prefeitura garante apoio ao projeto
A coordenadora geral Wanderleia falou que a prefeitura participa com apoio importante. O terreno onde foi construído o galpão que estoca os materiais recicláveis foi concedido pela administração municipal através de comodato.
“Além disso, a prefeitura colabora com o custeio de algumas despesas fixas. São medidas que contribuem com as famílias associadas e também com a manutenção do meio ambiente”, avaliou a coordenadora.
Em recente evento em Marataízes, o prefeito Jander Vidal anunciou que estuda a legislação para saber como poderá contribuir mais com o Catadores de Esperança. Segundo ele, o objetivo é providenciar melhorias na estrutura do galpão.
Sabão em pedra e líquido
Conforme Wanderlei, em 2011, foram associados e atendidos 32 catadores, além do grupo Guardiãs da Vida e o Grupo Verde Vida, que, juntos recolheram mais de 360 toneladas de materiais recicláveis, tais como garrafa pet, papelão e todo o tipo de plástico.
Além disso, foram recolhidos também 4.210 litros de óleo e gorduras de frituras. Destes, 450 litros foram transformados em sabão em pedra e líquido e vendidos para a fabricação de biocombustível.
Com o recurso, segundo a coordenadora, foi conferido apoio ao 1º Curso de Agricultura Orgânica para os agricultores de Marataízes e adquiridos materiais para oficinas de bonecas com tampas de garrafas plásticas, bolsas de garrafa pet e de pano de sombrinha.
Fonte: http://www.aquies.com.br/site/conteudo.asp?codigo=2716
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