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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dois lotes de ração contaminada podem ter matado 70 cães no Espírito Santo


Dezenas de cães no Espírito Santo morreram por problemas hepáticos que podem ter sido provocados pela ingestão de ração contaminada com um fugo. Nos últimos dois meses, cerca de 50 óbitos foram registrados e em todos os casos eles comeram a ração Magnus, da fabricante Adimax, para cães. Mas o número pode chegar a 70, segundo veterinários. Os sintomas nos animais foram parecidos: falta de apetite, problemas gastrointestinais severos, icterícia, hemorragia, aumento da atividade das enzimas hepáticas e diminuição das proteínas séricas. O atraso no diagnóstico leva ao agravamento da doença e diminui as chances de recuperação do animal.

Nos lotes 13612A e 13612C da ração Magnus - Fórmula Natural Pequenas Raças - foram identificadas níveis de aflatoxina acima do recomendado. As aflatoxinas são produzidas por um fungo, que pode estar presente em diversos tipos de alimentos, principalmente no milho - matéria-prima básica de toda a indústria de alimentação animal. Esses lotes foram recolhidos do mercado e a empresa Adimax orienta que os clientes que têm o produto em casa devem descartá-lo.

O motorista João Borloti não sabia dos problemas com o produto e a cadela da família, chamada Lassie, fez uso do alimento em setembro deste ano. Desde então, começou a apresentar problemas de saúde, que se agravavam com o passar dos dias. Foi a veterinária de confiança de João que o orientou a suspender o uso da ração. “Ela falou: suspende a ração. Eu tinha ainda uns dois quilos, mas parei”, contou.

Dois meses após os primeiros sintomas, na semana passada, Lassie morreu. O motorista disse que a família ficou desolada. “Já chorei o que tinha para chorar, minha mãe já chorou. A gente não esquece, consegue controlar, mas esquecer, não tem como. Na minha casa tem ainda a casinha, o perfume dela, está tudo lá”, lembra.

João aguarda o resultado da necrópsia para comprovar a causa da morte. Se for constatada a morte por aflatoxina, João diz que pode acionar a empresa na Justiça.

A médica veterinária Maria da Glória, afirma que 20 animais atendidos por ela morreram por conta da contaminação da aflatoxina. Por iniciativa própria, ela mandou fazer a análise da ração e constatou a presença do fungo. Ela explica que a contaminação é severa. “Alguns animais levaram algum tempo para manifestar a doença. A manifestação é extremamente aguda: ontem o animal está bom, hoje ele já está todo amarelinho, para de comer, tem vômito e o óbito chega em horas ou em até dois dias”, afirma. 

Maria da Glória disse que conseguiu salvar dois cães que estavam contaminados. Ela ressalta que, se o animal apresentar algum problema de saúde, ele deve ser levado imediatamente a um veterinário.

Confirmação
Assessora de Comunicação da empresa Adimax, Christine Mendonça, explica que o fungo causador da doença pode estar presente no milho. Mas quando isso ocorre, durante o processo de produção, ele é completamente eliminado. Porém, os esporos [forma latente do fungo] podem permanecer em pequenas quantidades. “Esses esporos, submetidos à condições ideais de temperatura e umidade podem se desenvolver e gerar o fungo que vai produzir a toxina”. 

Chistine afirma que o mesmo lote da ração foi comercializado em Minas Gerais, mas só no Espírito Santo houve a confirmação de contaminação pelo fungo. Cerca de 50 animais teriam sido afetados. A representante disse ainda que a empresa está ressarcindo as despesas médicas de todos os clientes que comprovarem que a doença foi causada pelo consumo da ração. Essa comprovação é feita mediante uma quantidade da ração ingerida para análise e também um laudo do veterinário, que ateste a causa da morte.

Sem contaminação
A empresa ressalta que os outros produtos da marca não apresentaram problemas e podem ser consumidos pelos animais normalmente. Em caso de dúvidas, os proprietários podem ligar para o SAC da Adimax pelo telefone 0800 737 3577. 

O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES), Luiz Carlos Barboza Tavares, disse que a entidade tomou conhecimento da suspeita de contaminação de dois lotes da ração da Adimax através de uma veterinária. Segundo Luiz Carlos, ao saber do problema, o CRMV-ES informou imediatamente ao Ministério da Agricultura e ao Conselho Regional de Minas Gerais. Ele afirma que, como a fábrica fica localizada em Minas, o Conselho capixaba não pode atuar no caso.

“Esses lotes, ligados a contaminação, foram industrializados em Minas Gerais. Então, o Conselho de Minas irá fazer a investigação com relação ao médico veterinário responsável ou zootecnista técnico responsável pela ração, para saber se como responsável, ele cometeu alguma falha ou não”, disse.

O CRMV-ES informou que cabe ao Ministério da Agricultura fiscalizar se os lotes da ração que apresentaram problemas foram retirados do mercado.

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