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domingo, 8 de julho de 2012

Motorista envolvido em acidente que matou 11 diz que temeu ser linchado

Carreta dirigida por ele foi atingida por van na BR-324, perto de Salvador. Delegado diz que pneu furado pode ser causa de desvio na direção. 

O motorista da carreta envolvida na batida que matou 11 pessoas na BR-324, em Candeias, região metropolitana de Salvador, prestou depoimento na delegacia da cidade na manhã desta sexta-feira (6), três dias após o acidente.

Valdeci Luís da Cunha, de 57 anos, disse à polícia que se afastou do local após a chegada das primeiras equipes de socorro porque teve medo de ser linchado por populares que se aproximavam. Antes, ele sinalizou a pista para evitar que outros veículos atropelassem as vítimas que caíram na rodovia. O motorista da van permanece internado em estado grave no Hospital do Subúrbio.

Ele contou sua versão ao titular da delegacia de Candeias, Wiliam Achan. De acordo com o investigador, o motorista disse que, pelo impacto da batida, acredita que a van estava em alta velocidade. Os dois veículos foram periciados por técnicos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) no dia do acidente. O prazo para o resultado do laudo é de 30 dias.

Segundo o investigador, o homem diz não sabe exatamente o que aconteceu na hora do acidente porque foi surpreendido com a batida. Valdeci afirmou que trabalha há 31 anos dirigindo carretas e nunca se envolveu em um acidente.

Ele saiu de Minas Gerais, onde mora, levando a carga que seria entregue em Simões Filho. No caminho, a van que fazia o transporte clandestino de passageiros bateu atrás da carreta. Segundo ele, o fluxo de veículos no trecho do acidente era tranquilo e a pista estava seca, por volta das 5h20 da manhã de terça-feira (3).

Pneu furado

Dois passageiros da van que sobreviveram ao acidente devem depor na próxima semana, segundo o delegado da 20ª Delegacia. Por enquanto, informou Achan, apenas o motorista da van pode ser autuado por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.

“Estamos esperando a melhora dele para esclarecer melhor as causas do acidente. Por enquanto, não há nenhuma conclusão de como tudo aconteceu. As informações que temos é que a van bateu atrás da carreta e, provavelmente, após ter o pneu traseiro furado perdeu o controle e bateu na lateral do veículo”, disse o delegado de Candeias.

Feridos

Três pessoas permanecem internadas. Uma está em observação no HGE e possui quadro estável. Dois homens - entre eles o motorista da van - estão internados no Hospital do Subúrbio com estado grave. Todas as vítimas ocupavam o transporte coletivo, que saía da cidade de Saubara, situada no recôncavo da Bahia, com destino a Salvador.

Luto

A prefeitura de Saubara, cidade localizada a cerca de 91 km de Salvador, decretou luto oficial de três dias na quarta-feira (4), em memória das vítimas do acidente. Cinco vítimas moravam na cidade.

A prefeitura de Santo Amaro, município onde está localizado o distrito de Acupe, também decretou luto oficial de três dias, desde a terça-feir. De acordo com o secretário de Governo da cidade, Dionísio Enéas, as bandeiras foram hasteadas a meio mastro em memória dos cinco moradores de Acupe que morreram no acidente.

Identificados

Na noite de terça-feira, o Departamento de Polícia Técnica de Salvador (DPT) identificou nove das dez pessoas que morreram na batida. Os corpos foram periciados durante todo o dia e alguns foram reconhecidos através de impressão digital. Os nomes foram informados pela assessoria do órgão por volta das 19h30 de terça-feira.

Sobrevivente

A recepcionista Andrea Nery de Santana pulou da janela do veículo assim que a van parou na pista da BR-324. Ela estava no lado esquerdo, o mesmo do motorista, na poltrona do meio, cuja janela partiu com impacto da batida, segundo o seu relato. Ela sofreu pequenos arronhões no cotovelo e na perna, consequência do contato que teve com o asfalto.

"A minha janela foi a única que estourou. Foi tudo muito rápido. Pulei a janela, peguei meu celular e comecei a ligar para o Samu. Só pensei em dar socorro, ali só tinha a gente. Eu sozinha na pista e os corpos lá, no chão", afirma a sobrevivente. Todos os mortos e feridos estavam na van, entre eles, passageiros e motorista. Eles tinha saído da cidade de Saubara, no Recôncavo da Bahia.

De acordo com Andrea Nery, os passageiros viajavam todo início de dia comercial para trabalhar na capital baiana. Ela não acredita que o motorista tenha dormido ao volante e propiciado a batida. "Conhecia de vista todo mundo. Eram trabalhadores, que vinham com ele [motorista] há mais de cinco anos. Ele era muito responsável, a gente não tinha medo, todo mundo vinha dormindo, porque conhecia ele há muito tempo. É super responsável, tem mais de 15 anos de profissão, viaja para fora do país", afirma sobre o motorista. Além dela, outro passageiro, Antônio Ramos, não sofreu ferimentos graves.

Evidências

Para a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista da van deve ter dormido ao volante. Segundo o órgão, a conclusão foi obtida por meio de informações iniciais e embasada no fato de que a van transportava passageiros, a carreta que seguia à frente mantinha a velocidade compatível com a permitida na pista e porque foi encontrado cerca de R$ 900 em notas trocadas com o motorista. A quantia, segundo o órgão, demonstra que ele trabalhou durante toda a madrugada pós-feriado 2 de Julho, que é de âmbito estadual e celebra a independência do Brasil na Bahia.

A Agerba, órgão estadual que regula e fiscaliza os transportes, a van não possuía licença para realizar transporte, configurando clandestinidade. Segundo o diretor executivo do órgão, Eduardo Pessoa, o proprietário do veículo solicitou vistoria junto à Agerba em setembro de 2011, mas a realização do procedimento foi negada porque a van não possuía requisitos para circular. A perícia foi realizada por equipes da Polícia Civil da cidade de Candeias.


Fonte: g1.globo.com

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